Entrevista com Mas Oyama

 

Entrevista com Mas Oyama

 

 

Mas Oyama é uma das personalidades mais expressivas do Karate Moderno. Grande adepto da força física, fanático do combate, defendia uma forma fundada quase essencialmente sobre a defesa pessoal. Henry Kan, um professor Francês entrevistou-o em Tóquio.

 

O Karate é um desporto?

Claro que não. Apenas o Karate permite penetrar o espírito Zen. Antigamente a arte do sábio encontrava-se muito próximo do Zen, mas o Kendo tornou-se actualmente um desporto. O desporto é uma distracção, o Budo (caminho do guerreiro), consiste em castigar o seu corpo e o seu espírito, ser severo consigo mesmo, para melhor compreender os outros. O problema não é viver e sim não morrer. O espírito do Budo é pensar na morte: todo a gente pode viver, pode-se viver engraxando sapatos, isto não é difícil. Se você pretende fazer Karate como desporto, pode ir a qualquer clube e poderá sair-se bem, mas não na nossa casa.

 

Então, porquê as competições?

É uma prova necessária para você mesmo, para valorizar as suas capacidades.

 

Que fazer para ganhar?

O problema não consiste em ser o primeiro, mas sim vencer-se a si mesmo, mais que o seu próprio adversário. Compete-se para vencer a si mesmo. Para vencer o seu medo. Quando se tem medo de si mesmo, tem-se medo dos outros.

 

O que pensa sobre a violência na sociedade Moderna?

A violência é indispensável para um praticante de Karate, inclusive se esta violência tem formas escondidas. Por exemplo, uma vez que uma pessoa se casa, não deve divorciar-se. Deve ser-se severo consigo mesmo e consequentemente com o outro. Pode casar-se com quem quiser. Eu sou a favor de matrimónios internacionais. A moda actual dos divórcios é uma verdadeira praga para a actual sociedade. No nosso Dojo, ninguém se divorcia. Se encontrasse algum divorciado, expulsava-o imediatamente. Um dia apresentei um holandês do nosso clube a uma japonesa com quem se casou, algum tempo depois divorciou-se, expulsei-o imediatamente. A pessoa que não tem uma vida familiar equilibrada, não tem nada a ver connosco. Tudo isto é a essência do Karate. O Karate não foi feito para ganhar dinheiro, a sociedade está podre por causa do dinheiro.

 

Os Katas são importantes?

O Kumite é mais importante que os Katas, a competição também. O kihon é a técnica dos movimentos de base. Se os conhece a fundo, pode fazer os Katas. Portanto, o mais importante são os movimentos de base (kihon), a técnica.

 

E a respiração?

É certamente importante na vida e no Karate. Cada vez que damos um passo, respiramos. Existem 5 maneiras de respirar: a primeira é aquela que todo mundo utiliza todos os dias. Antigamente praticavam-se 7 maneiras de respirar, inclusive uma delas servia para resistir á tortura. O resultado de um combate depende da respiração. Quando alguém tem medo, sua respiração muda, não se pode controlar. É controlando a respiração que se chega a controlar os combates.

 

De onde vem a respiração?

Toda a gente dirá que vem dos pulmões, mas não é assim. A respiração vem do centro do homem, portanto do ventre. Abaixo do umbigo, encontra-se a força, é dali que vem a respiração, o que não vem do ventre não é respiração, é simplesmente engolir o ar.

 

O senhor tem alguma técnica especial?

O combate é uma questão de força, sem força não se pode ganhar. Evidentemente quando se envelhece, se perde a força, mas ganha-se técnica. Se, por exemplo, eu fizesse uma competição com o actual campeão (ele tem 23 anos e eu 53 anos) eu penso que ganharia, porque colocaria um golpe decisivo nos primeiros 30 segundos de luta. Se passar deste tempo, seria demais, pois me cansaria e correria o risco de perder, pois tenho uma técnica secreta e especial que não ensino a ninguém e que me dá a superioridade. Tenho sempre algo a mais a ensinar, mas somente próximo da morte, eu passarei aos meus fiéis.